Os filhos-de-santo são os sacerdotes dos
orixás, da mesma forma como, na Igreja Católica, os padres são os
representantes de Deus. Nem todos, porém, são preparados para "receber"
os santos. Existem os que cuidam dos filhos-de-santo quando os orixás
"baixam", os que sacrificam os animais, os que tocam os atabaques e os
que preparam a comida. Os búzios, usados como instrumento de
adivinhação, é que vão dizer qual a função de cada um.
A entrada para essa hierarquia é a indicação
do orixá. É o que se chama "bolar no santo". A partir daí, o abian
(noviço) tem de se submeter aos rituais de iniciação - cerimônias do
bori, orô e saídas de Iyawô.
Um recém-iniciado passa de um a seis meses vivendo dentro de severas restrições. É o tempo de Kelê
(quelê) - o período em que o abian usa um colar de contas justo ao
pescoço. Enquanto usar o quelê, ele deve vestir branco, comer com as
mãos e sentar-se só no chão. Estão proibidas as relações sexuais e os
pratos que não sejam os de seu orixá.
Nem todos os terreiros seguem à risca todas
as imposições. Mas pelo menos algumas têm de ser obedecidas: é parte do
compromisso do abian com seu orixá e seu pai ou mãe-de-santo. As
obrigações não terminam por aí: o iniciado, que agora se chama Iyawô,
terá de cumprir ainda três rituais - depois de um ano, três anos e sete
anos - , com sacrifícios, toques e oferendas. Só depois ele pode se
candidatar a ebômi, o grau seguinte da hierarquia.
Obi
Obi, obi d’água ou simplesmente obi. Todos
estes nomes referem-se à mesma obrigação, voltada exclusivamente a
confortar uma pessoa em um caso de doença, desemprego, distúrbios
nervosos, ou até mesmo para um iniciado dentro dos preceitos do axé
orixá, quando por um motivo ou outro, o mesmo não pode passar por um
bori. Esta obrigação tem seu nome em referência a uma fruta africana, o
obi, sem a qual nada podemos realizar para os orixás, no tangente a
sacrifícios, uma vez que é com ela que conversamos com nossos
antepassados para sabermos se aquele santo está satisfeito com a
obrigação, etc.
Esta obrigação é a mais simples realizada
dentro do axé, no tangente a dar de comer a uma cabeça. Muito embora
algumas pessoas achem que ela não tem maiores fundamentos junto com o
orixá, mas já presenciamos muitos casos que foram resolvidos com esta.
Trata-se neste ato, de confortar o anjo da guarda da pessoa, seja
consulente ou filho de santo, ocasião onde alimentamos Òşàlà, no intuito
de pedir a misericórdia para aquele filho que se encontra em tal
sofrimento.
Claro que esta obrigação não cria uma
obrigatoriedade do cliente com o santo, ela apenas serve como um modo de
resolver de imediato uma questão. Existem aqueles que após o obi,
sentem-se tão felizes que optam por penetrar de forma mais profunda
dentro de nossa religião.
Nesta obrigação são utilizados: ebô (canjica
de Òşàlà), ebô yá (a mesma canjica, porém preparada para Yemanjá e de
forma diferente), o obi (que é uma fruta de origem africana), frutas
variadas, vela e uma quartinha com água além da comida do santo da
pessoa. Em alguns casos é utilizado um pombo branco.
Antigamente quando uma pessoa desejava
entrar para os preceitos de uma casa, ou seja, ser filho ou filha de
santo naquele templo, ou mesmo quando seu orixá exigia feitura, os
zeladores tinham por hábito realizar esta como uma primeira obrigação,
para daí então estudar a pessoa, ver se ela realmente tinha amor e
dedicação para com os orixás, e até mesmo para se certificarem de que
era realmente sua casa e sua mão que aquele santo desejava, e não apenas
uma empolgação material ou espiritual. Agiam assim, pois que, nesta
época não existia o fato de uma pessoa fazer santo com um e tomar
obrigações com outro, provocando um rodízio ridículo nas roças de santo
como as que se vê hoje em dia.
Para uma pessoa se iniciar, existia todo um
processo de identificação dele com a casa e vice-versa. Era uma época em
que a fidelidade de um iniciado era realmente levada a sério, assim
como a do sacerdote com relação a seus iniciados. E o obi, era
justamente a obrigação que funcionava como uma espécie de flerte,
vulgarmente comparando, evitando constrangimentos futuros.
Hoje em dia, parece que esta fidelidade
simplesmente evaporou-se com a fumaça dos defumadores, pois que uma
pessoa se inicia em uma casa e quando desencarna, traz uma longa
passagem de terreiro em terreiro. Claro que ainda existem aqueles que
prezam a fidelidade, mas são bem poucos nos tempos atuais.
Ser um iniciado é antes de tudo sermos fiéis
a mão que alimenta nosso orixá, nosso anjo da guarda, assim como ele é
fiel a nosso zelador. Pertencermos ao axé orixá é antes de tudo sermos
humildes, desprovidos de arrogância e soberba, é seguirmos nosso destino
na certeza de que um ser tão puro e iluminado se dedica a zelar por nós
e nossa vida.
Bolar o Santo
É o mesmo que cair no santo. Este é o sinal
que indica a necessidade de iniciação de uma pessoa no candomblé.
Acontece sem previsão, normalmente numa festa: durante a dança e os
cânticos, o Orixá se "manifesta" no futuro filho-de-santo, que é agitado
por tremores e sobressaltos violentos. Quem já "bolou" conta que sentiu
arrepios, calor, fraqueza e sensação de desmaio. Quando acorda no roncó
(o quarto do terreiro reservado à pessoa que "bolou"), o abian não
consegue se lembrar de nada do que aconteceu.
Bọrí
Bọrí - bọ = (adorar, idolatrar) + orí = (cabeça) que literalmente traduzido significa Oferenda à Cabeça.
Do ponto de vista da interpretação do ritual, pode – se afirmar que o
bori é uma iniciação à religião, na realidade, a grande iniciação, sem a
qual nenhum noviço pode passar pelos rituais de raspagem, ou seja, pela
iniciação ao sacerdócio. Sendo assim, quem deu bori é (Iésè órìsà).
Cada pessoa, antes de nascer escolhe o seu
ori, o seu princípio individual, a sua cabeça. Ele revela que cada ser
humano é único, tendo escolhido suas próprias potencialidades. Odu é o
caminho pelo qual se chega à plena realização de orí, portanto não se
pode cobiçar as conquistas do outro. Cada um, como ensina Ọrúnmilà –
Ifá, deve ser grande em seu próprio caminho, pois, embora se escolha o
ori antes de nascer na Terra, os caminhos vão sendo traçados ao longo da
vida.
Exu, por exemplo, nos mostra a encruzilhada,
ou seja, revela que temos vários caminhos a escolher. Ponderar e
escolher a trajetória mais adequada é tarefa que cabe a cada ori, por
isso o equilíbrio e a clareza são fundamentais na hora da decisão e é
por meio do bori que tudo é adquirido.
Os mais antigos souberam que Ajalá
é o orixá funfun responsável pela criação de ori. Dessa forma,
ensinaram – nos que Òşàlà sempre deve ser evocado na cerimônia de bori.
Yemanja é a mãe da individualidade e por essa razão está diretamente
relacionada a orí, sendo imprescindível a sua participação no ritual.
A própria cabeça é síntese de caminhos
entrecruzados. A individualidade e a iniciação (que são únicas e acabem,
muitas vezes, se configurando como sinônimos) começam no ori, que ao
mesmo tempo apota para as quatro direções.
- iwájú orí – A TESTA
- ICOCO ORI – A NUCA
- apá ọ̀tún – O LADO DIREITO
- apá òsì – O LADO ESQUERDO
Da mesma forma, a Terra também é dividida em
quatro pontos: norte, sul, leste e oeste; o centro é a referencia, logo
toda pessoa deve se colocar como o centro do mundo, tendo à sua volta
os pontos cardeais: os caminhos a escolher e seguir. A cabeça é uma
síntese do mundo, com todas as possibilidades e contradições.
Na África, Orí
é considerado um deus, alias, o primeiro que deve ser cultuado, mas é
também, junto com o sopro da vida (emi) e o organismo (ese), um conceito
fundamental para compreender os ritos relacionados a vida, como Aşèşè (asesé). Nota – se a importância desses elementos, sobretudo o ori, pelos oriquis com que são evocados:
O bori prepara a cabeça para que o orixá
possa manifestar – se plenamente. Há um provérbio nagô que diz: Orí buru
kó si Òrìşà. É o bori que torna a cabeça ruim não tem orixá. É o bori
que torna a cabeça boa. Entre as oferendas que são feitas ao ori algumas
merecem menção especial. É o caso da galinha – d’angola, chamada nos
candomblés de etum ou konkém, que é o maior símbolo de individuação e
representa a própria iniciação. A etun é adoxu (adosú), ou seja, é feita
nos mistérios do orixá. Ela já nasce com exu, por isso relaciona – se
com começo e fim, com a vida e a morte, por isso está no bori e no Aşèşè.
O peixe representa as potencialidades, pois a
imensidão do oceano é a sua casa e a liberdade o seu próprio caminho.
As comidas brancas, principalmente os grãos, evocam fertilidade e
fartura. Flores, que aguardam a germinação, e frutas, os produtos da
flor germinação, simbolizam fartura e riqueza.
O pombo branco é o maior símbolo do poder
criador, portanto não pode faltar. A noz cola, isto é, o obi é sempre o
primeiro alimento oferecido a ori; é a boa semente que se planta e
espera – se que dê bons frutos.
Todos os elementos que constituem a oferenda
à cabeça exprimem desejos comuns a todas as pessoas: paz,
tranqüilidade, saúde, prosperidade, riqueza, boa sorte, amor,
longevidade, mas cabe ao ori de cada um eleger prioridades e, uma vez
cultuado como se deve, proporciona-las aos seus filhos.
Orô
Chega finalmente o dia do orô, a cerimônia
de assentamento do orixá, na qual o abiã terá sua cabeça depilada e
serão sacrificados os animais correspondentes ao orixá que está sendo
assentado. Geralmente os orixás recebem como sacrifício um animal "de
quatro patas" (de acordo com suas preferências características: para
Ògún, por exemplo, sacrifica-se um bode escuro; para Oxum, uma cabra
amarelada). Para cada pata do animal, deve-se sacrificar uma galinha.
Outras aves, como galinhas d'angola, pombos e patos, também podem ser
sacrificados. Além da cabeça, os assentamentos que foram preparados
recebem também parte dos sacrifícios dos animais, pondo o corpo do
iniciado em relação com os símbolos do deus, unindo as várias formas de
um mesmo conteúdo: o orixá.
Sendo a cabeça considerada o ponto
privilegiado da manifestação divina, é nela que se farão os cortes
rituais (aberês) propiciatórios à incorporação, bem como as pinturas
feitas com as tintas sagradas obtidas a partir da diluição de pós como o
waji, o ossum e o efum (azul, vermelho e branco respectivamente).
Também o Kelê (colar de contas usado rente ao pescoço, sublinhando a
importância da cabeça que foi sacralizada) é amarrado nesse momento e
assim deverá permanecer por um período de três meses, durante os quais
um conjunto preciso de interdições deverá ser observado pelo
Saidas de Iyawô
A festa de Saída de Iyawô é sempre muito concorrida e tida como uma das festas de maior axé, pois um orixá está nascendo.
O Iyawô normalmente costuma fazer
quatro aparições em público no dia da festa, conhecidas como "saída de
Òşàlà" ou "de branco", saída "de nação" ou "estampada", saída "do
ekodidé" ou "do nome" e saída do rum ou "rica". Na primeira "saída" o Iyawô
(em transe) entra sob o alá (pano branco), totalmente vestido de
branco, reverenciando Òşàlà. Cumprimenta a porta, o ariaxé‚ (ponto
central do barracão), os atabaques, o pai-de-santo e, eventualmente, a
mãe-pequena, com dobale e paó (cumprimentos rituais), sempre sobre a
esteira. Dá uma volta dançando de modo contido pelo barracão e se
retira. Prossegue o xirê.
Na segunda saída o Iyawô entra
vestido e pintado com as cores da "nação". Há quem diga, no entanto, que
esta saída especifica a "qualidade" (avatar) do orixá que está saindo.
Ele segue novamente a ordem dos cumprimentos, agora somente com seu jicá
(saudação que os orixás fazem com o corpo), uma vez que seu ilá (grito
com que o orixá se anuncia) só será conhecido após a "queda" do Kelê.
A terceira saída, muito esperada, é a saída
do orukó (nome), também chamada "saída do ekodidé" (pena vermelha de
papagaio, relacionada com a fala), momento em que o orixá revelará
publicamente seu nome secreto, que é parte de si mesmo. É um momento de
grande emoção, acompanhado de um certo suspense, estimulado pelos outros
filhos de santo, que geralmente "viram" (entram em transe) ao ouvir o
nome. Dito o orukó, os atabaques imediatamente começam o adarrum (ritmo
muito acelerado) e o orixá é levado para vestir suas roupas de rum
(dança), ou seja, suas vestes típicas e suas "ferramentas" para voltar e
dançar, pela primeira vez, em público.
Esta é a quarta saída: a saída do rum ou
"rica", quando o orixá entra, saúda os pontos principais com seu jicá e
dança suas cantigas. Geralmente, nessa saída, o orixá dança apenas as
músicas que lhe são atribuídas e nenhuma outra, mas há casos em que o
novo orixá dança também para o orixá do pai-de-santo. Não convém,
entretanto, fazer dançar demais o orixá muito novo. Findo o rum, toca-se
para retirar o Iyawô em transe da sala ("cantar para subir", dizem os alabês) e o xirê prossegue até as cantigas para Òşàlà, encerrando o toque.
Toca-se então para a entrada do ajeum, que
pode conter as mais diversas comidas e bebidas, de acordo com o orixá
feito e com as posses do iniciado.
Glossário
Orúkọ
Orúkọ - (Português - [Òrunkó, Orukó) - lit. eco do céu - é o nome que todos os orixás obrigatoriamente tem que ecoar no dia especial, chamado nome do santo (Feitura de santo) em público, na presença de todos os irmãos, filhos e adeptos. Momento mais esperado da iniciação ketu, ritual de tensão muito grande e a expectativa dos sacerdotes que contribuíram nesta sagrada iniciação, podendo ser afirmada ou negada pelo noviço de que tudo foi bem feito ou não, em caso positivo, ouve-se um grito triunfal do seu Òrunkó, todos os Iyawô "eleguns" que não tem obrigação de sete anos ODÙ EJE entram em transe. Também é o nome que todos os iniciados recebem depois da sua iniciação e chamado por todos da comunidade. Na nação Angola Dijína tem o mesmo sentido que a palavra Òrunkó.
Dijina
Dijína, palavra de origem Kimbundo Rijina, dialeto Bantu que significa "nome" - Nos candomblés de origem Bantu, o nome do Nkisi da pessoa deve ser secreto, se diz em público mas raramente alguém consegue ouvir, sòmente o pai ou mãe de santo deve conhecer, e a(o) madrinha/padrinho da pessoa, que é escolhida pelos mesmos. Os iniciados após a feitura recebem uma dijina (apelido) que a partir de então é conhecida por todos no dia do nome, sendo conhecido e chamado sòmente por este nome dentro do culto religioso. Quem sabe o nome do Nkisi tem uma ampla influência sobre a pessoa, por isso é tão secreto, pois só é passado para pessoas confiáveis. Através do nome do Nkisi, pode-se fazer tanto o bem quanto coisas que prejudicam.
Kelê
Kelê, kele ou quelê é um fetiche ou seja: Objeto inanimado feito pelo homem ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto. Confeccionado com miçangas fio de contas, intercalado com firmas de porcelana, pedras tipo ágata e cristal, terra cota, búzios, lagdba, até mesmo sementes. Sua cor varia de acordo com o orixá de cada iniciado na feitura de santo. O Kelê é uma aliança que tem a finalidade de unir o sagrado com o iniciado, num simbolismo de casamento perfeito com o seu orixá, usando restritamente no pescoço, na iniciação, obrigação de três, sete, quatorze e vinte e um anos de feitura. Depois de um período que pode variar de 12, 14, 16, 21 e até mesmo três meses da obrigação ritualistica, a "jóia" do orixá como também é chamada, é determinado pelo orixa, através do Mẹ̀rìndínlógún a ser colocada no assentamento sagrado Igba orixa, podendo permanecer até a ultima obrigação do iniciado chamada de Aşèşè, quando este objeto tão sagrado e místico é desfeito
Elẹ̀gún
Elẹ̀gún (Português Elegun) - é a palavra que exprime o conceito dos iniciados nas religiões tradicionais africanas e de matriz africana ou de afro-descendentes, inerente ao culto do Orixá. É aquele que passou pela iniciação, Feitura de santo ou iniciação ketu, sujeita ao transe de possessão. Os chamados não rodantes não são considerados Elegun. Todo elegun é um olóòrìsà (aquele que possui um orixá), que habita no seu interior e pode ser expressado em qualquer hora e lugar. No Brasil a palavra que define um iniciado é adósùu (aquele que levou o osù "oxu"), comumente chamado de Iyawô, todavia é muito claro e notório no terreiro de candomblé que todo Iyawô é um Adoṣu , mas nem todo Adoṣu é um Iyawô.
Adoṣu
Cone localizado no topo da cabeça do Ìyàwó resultado de uma massa feita de ervas, pós e sangue, sendo um distintivo do estado do iniciado.O Adoṣu relembra o cone original da geração da energia vital - àṣẹ - servindo, segundo a tradição oral, para facilitar a entrado do santo na cabeça do Ìyàwó.O Adoṣu poderá ser complementado com uma pena de galinha-d'angola. Refletir sobre a relação mimética da galinha-d'angola com a caracterização do Ìyàwó - pintura corporal e o próprio Adoṣu. Sem dúvida, é mímese da zooantropormofização do rito de passagem da iniciação, pois o Ìyàwó é a galinha-d'angola.Embora a designação Adoṣu refira-se àquele que recebeu o oṣu, ampliou-se o termo para orgulho da iniciação. O uso do Adoṣu propiciará a fala, o nome do noviço em ritual público conhecido por orúkọ nos Candomblés Yorubá-Nagô.
Aşèşè
Aşèşè (Português - Axexê) - cerimônia realizada após o ritual fúnebre (enterro) de uma pessoa iniciada no candomblé.Tudo começa com a morte do iniciado, chamado de ultima obrigação, este ritual é especial, particular e complexo, pois possibilita a desfazer o que tinha sido feito na feitura de santo, é bem semelhante com o processo iniciático chamado de sacralização, só que agora este procedimento é uma inversão chamada de dessacralização, no sentido de liberação do Orixá protetor do corpo da pessoa.Com uma navalha o Babalorixá ou yalorixá raspa o topo do crânio do falecido e retira o Oxu, juntamente com todos os pós colocado na sua iniciação, em seguida quebra-se um ovo, oferece um obi Obi ritual, pintando-o com efun, wáji, e ossun, coloca-se um novo oxu, um pombo é sacrificado, o sangue que escorre é recolhido num pedaço de algodão, parte dos objetos é enrolado no pano branco e colocado na sepultura, e outra é levado para dar inicio ao ritual do Aşèşè propriamente dito.Junta-se todos seus pertences pessoais utilizados em sacrifícios e obrigações, como roupas, colares, nem sempre os assentamentos dos orixas são desfeitos, se faz uma consulta oracular (jogo de búzio) "Mẹ̀rìndínlógún" para se saber do destino dos objetos separados, se ficam com alguém. Em caso positivo, o objeto ou objetos em questão é lavado com água sagrada e entregue aos herdeiros revelado(s) no oráculo, e em caso negativo, o objeto é separado para junto com os demais e, após serem os colares rompidos juntamente com o kelê, as roupas rasgadas e os assentamentos quebrados, são colocados em uma trouxa que será entregue em um local também indicado pelo oráculo. Normalmente, a trouxa, chamada de Carrego de Egum, é acompanhada de um animal sacrificado, indo de uma única ave a um quadrúpede acompanhado de várias aves, dependendo do grau iniciático do morto. E ainda, se o falecido era um iniciado de pouco tempo, basta um lençol branco para embalar o carrego, se tratar de alguém mais graduado, o carrego é colocado em um grande balaio, o qual é depois embalado no lençol.O processo de preparação e entrega, ou despacho do Carrego de Egum é a cerimônia fúnebre mínima que se dedica a qualquer iniciado no candomblé quando morre. As variações surgem, como foi já colocado, dependendo do grau iniciático ao qual pertencia o morto mas também da Nação em que fora iniciado.Se o morto era uma pessoa graduada na religião é que mereceria um Aşèşè. O Aşèşè nesses casos antecede ao Carrego de Egum e consiste em uma, três ou seis noites de cânticos e danças na qual se celebra a partida do iniciado para o outro mundo, rememorando o nome de outros iniciados já falecidos e, enfim, os eguns em geral.Canta-se também a certa altura para os orixás, menos para Xangô, para os quais se canta no depois da entrega do carrego no ritual do arremate. Todos os participantes devem vestir branco, a cor do nascimento e da morte no candomblé, as mulheres devem estar com a cabeça e o pescoço cobertos e os homens com os pulsos envolto na palha da costa.Obedecem-se vários preceitos rígidos de comportamento dentro do terreiro durante todo o processo, para evitar melindrar o espírito que está sendo respitosamente despedido.Depois do carrego despachado, canta-se o arremate no dia seguinte à tarde, antes do pôr-do-sol, as mesmas cantigas do Aşèşè são ainda entoadas e no final são louvados os orixás, e empreende-se uma limpeza ritual do terreiro, com a participação eventual dos orixás que porventura tenha se manifestado em seus elegun.Ao longo do Aşèşè mesmo somente orixás mais ligados à morte como Oyá-Iansã, Obaluaiyê, Nanã e Ogum, etc. costumam se manifestar. No caso em que o morto era um pai ou mãe de santo cujo terreiro permanecerá ainda aberto, deverá ficar fechado ao público durante um ano ou mais conforme deteminação do jogo, mas as cerimônias internas continuam, costuma-se repetir o ritual de um, três, seis meses, e um, três, sete anos depois do Aşèşè inicial.O Aşèşè também é conhecido pelos nomes de sirrum e zerim, nomes em Língua Fon significando os instrumentos que são percutidos em substituição aos atabaques.O sirrum é uma metade de cabaça emborcada em um alguidá onde se encontra uma mescla de substâncias líquidas abô e o zerim é um pote com certas substâncias dentro que é percutido com um abano (leque de palha) dobrado em dois.Quando se trata de uma pessoa especialmene antiga e poderosa na religião, o Aşèşè é tocado com atabaques mesmo, com os couros ligeiramente afrouxados para serem depois também despachados no carrego. Em alguns terreiros da Nação Ketu também se usa tocar Aşèşè com três cabaças: duas inteiras e uma com a ponta cortada.
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