sexta-feira, 18 de maio de 2012

Oráculo de Ifá



No Candomblé, cultuar Ifá, também conhecido como Ọrúnmilà, é fundamental. Divindade da sabedoria para os religiosos Iorubás, nada se faz sem antes consultá-lo. Seu objeto principal é o Opon Ifá, tábua sagrada onde os Odús (signos Iorubás) são marcados no pó Ierosum (pó de uma árvore sagrada, corroída naturalmente pelos cupins), constituindo-se numa espécie de enciclopédia oral das tradições dos religiosos Iorubás. Os porta-vozes de Ifá são os Babalawós, “pais do segredo” ou sacerdotes de Ifá.

A Comunicação com os Orixás pode ser feita pelo Oráculo de Ifá ou pelo Jogo de Búzios. Ifá é o nome que Olodumarê, o Deus Criador, deu para Ọrúnmilà enquanto divindade manifestada no mundo. Ifá é o Oráculo, o sistema divinatório composto de diversos métodos. Os mais conhecidos são o Opelé, o Ikin e o Mẹ̀rìndínlógún ou jogo de búzios. Ọrúnmilà é a divindade e Ifá é o sistema onde esta divindade se manifesta. Não há Ifá sem Ọrúnmilà e nem Ọrúnmilà sem Ifá. Estes dois conceitos são tão intimamente relacionados que muitas vezes nos referimos a Ọrúnmilà como Ifá. Ọrúnmilà é a divindade da sabedoria e do conhecimento, responsável pela transmissão das orientações dos deuses e de nossos ancestrais, de maneira a permitir a cada um de nós a possibilidade de uma escolha acertada para uma vida feliz.
Ọrúnmilà, a Testemunha do Destino e da Criação. O segundo após Olodumarê. Aquele que estava presente, ao lado de Deus, quando a Vida, o Mundo, o Homem foi criado. Ọrúnmilà tudo vê, tudo sabe, tudo conhece. Não há nada que tenha sido criado ou que virá a ser criado que Ọrúnmilà não saiba antes. Ọrúnmilà conhece a vida e conhece a morte, ele conhece a existência: o antes e o depois. Por isso ele pode ajudar.
Ọrúnmilà/Ifá deve ser compreendido como um sistema: é o homem e a sua ferramenta. Por vezes o homem é a sua própria ferramenta. Ọrúnmilà é tanto humano quanto espírito. Enviado por Olodumarê para ir a diferentes lugares sempre que há necessidade para ajudar os homens a enfrentarem seus problemas, contornando obstáculos e desenvolvendo o seu bom caráter. Podemos também imaginar Ọrúnmilà como o espírito de Olodumarê manifestado no homem.
Alguns dizem que a palavra Ọrúnmilà deriva de Oro-Omo-Ela ou Oro= palavra/espírito, Omo= filho, Ela= Deus. Após a Criação, Ọrúnmilà veio à Terra como a divindade encarregada por Olodumarê para ensinar os homens. Esta mensagem é Ifá, a luz, o conhecimento e a orientação da sabedoria ancestral de toda a humanidade.
O jogo de búzios tem por finalidade identificar nosso Orixá (Orí = cabeça (física e astral) + ṣá = eleita); ou seja, problemas do plano astral, espiritual, material e suas soluções.
O jogo de búzios é uma leitura divinatória e esotérica por excelência, utilizado como consulta, quer seja; para identificar o nosso Orixá que é a mesma figura do anjo de guarda; a situação material, astral e espiritual, principalmente com relação a problemas e dificuldades. A leitura esotérica divinatória está diretamente ligada a Òrúnmìlà, cujos Babalorixás, são seus porta-vozes, outras lendas africanas, mostram a ligação do jogo de búzios com Exú, Oxum e Òşàlà. Os búzios são jogados em número de dezesseis, que correspondem aos dezesseis Odús principais.
Métodos divinatórios
Mẹ̀rìndínlógún
Mẹ̀rìndínlógún - vem da palavra ẹ̀rìndínlógún e a tradução é dezesseis, sistema utilizado na África pelos yorubás algumas vezes chamado de dilogun (abreviatura de Mẹ̀rìndínlógún), entregue ao sacerdote no ritual de oyê depois da obrigação de odu ejé. É um dos muitos métodos divinatórios utilizado pelos Babalâos, Babalorixás e Iyalorixás que conta com 16 búzios. É um método diferente do jogo de búzios, pois nele ocorre a interpretação das caídas dos búzios por odù e (cada odù indica diversas passagens) de acordo com a mitologia yorubá. No Mẹ̀rìndínlógún, antes do arremesso dos búzios é Ifá o intermediário, quando eles caem dando a quantidade, o intermediário passa a ser Exu Elegba, que sempre acompanha Ifá. As caídas são dadas conforme a quantidade de búzios abertos e fechados resultante de cada arremesso. A resposta para cada quantidade de búzios abertos e fechados, corresponde um Odù e como ocorre no Opele-Ifa, esse odù deve ser interpretado, transmitindo-se ao consulente tanto o significado da caída, quanto o que deve ser feito para solucionar o problema.
Caida de Búzios
Búzios
Obí
Obí
Obí
O Obi que é um fruto africano de uso imprescindível no Candomblé, sem ele nenhuma obrigação é feita. Para que a obrigação, ou outro rito prossiga com aceitação dos orixás é necessário uma resposta positiva a ser dada através do Obi.
Ele deve ser jogado antes da obrigação para saber se o ritual pode ser realizado e depois de feito para saber se foi aceito pelos deuses.
O fruto utilizado deve ser o que possui quatro gomos, chamado de Obi Abatá, sua divisão deve ser natural, ou seja é proibido o uso de faca ou qualquer material cortante, para dividi-lo em quatro partes, se naturalmente ele só contiver duas partes.
As duas metades correspondem a dois casais, caso o obi contenha mais de quatro partes, o excedente deve ser retirado, para que somente as quatro permaneçam. O local onde o Obi será lançado deve ser plano, no chão ou sobre um prato branco, onde fundamentalmente contenha água.
As partes são lançadas simultaneamente, sem manipulação ou lançamento individual. Uma exceção deve ser feita no uso do Obi como jogo, para o Orixá Xangô deve ser utilizado Orobô em substituição do Obi. As caídas dos gomos de Obi tem a seguinte correspondência:
  • Um para cima e três para baixo: O orixá Exu é quem responde ao jogo. É necessário verificar se as obrigações a ele foram cumpridas. O zelador deve saudá-lo colocando a mão no chão e no peito por três vezes e continuar o jogo. O odu correspondente é Okaran.
  • Dois para cima e dois para baixo: A resposta vem de Ogum que neste caso representa o equilíbrio. O odu corresponde a Ejiokomeji.
  • Três para cima e um para baixo: Não é considerada uma resposta precisa, sendo assim não há autorização para iniciar nenhuma obrigação.
  • Todos para baixo: Uma resposta negativa.
  • Todos para cima: Resposta positiva para a obrigação possa ser iniciada e com êxito. O odu correspondente é Aláfia.
Ikin
Ikin
Ikin
Dezesseis sementes de palmeira são objetos mais importantes empregados na divinação Ifá, bem como no ritual Ifá. Eles também distinguem a divinação Ifá de outros sistemas que utilizam números diferentes ou outras espécies de sementes, do Agbigba, cortes da areia e outros sistemas de divinação nos quais são empregadas as mesmas dezesseis figuras básicas. Ritualmente, as 16 sementes de palmeira simbolizam Ifá como o deus da divinação, da mesma forma que os machados pré-históricos ou "pedras dos relâmpagos" representam Xangô, o deus do raio e do trovão. Como sacrifícios a Xangô são oferecidos a esses machados, assim também sacrifícios a Ifá são feitos para as suas 16 sementes de palmeira. Na divinação, ritual e mito, Ifá está associado a uma variedade especial de palmeira oleaginosa.
A palmeira oleaginosa ọ̀pẹ ou Elaeis guineensis Jacq. - Dendezeiro dá frutos (eyin) em grandes cachos (idi, eyin, banga); cada fruto é uma noz de palmeira coberta por um pericarpo laranja-avermelhado do qual é extraído o óleo de palmeira (ep), que se destina à culinária e exportação. Os caroços èkùrọ́ propriamente ditos tem comprimento aproximado de uma polegada, de forma ovoidal, com dura casca negra e sulcos longitudinais. Dentro do caroço há sementes brancas que são exportadas e das quais os iorubá extraem o óleo de semente de palmeira adí para a fabricação de sabão e outros fins. Frobenius, ao contrário, diz que sementes de palmeira não são usados em lugar de caroços da palmeira. Tanto os caroços quanto as sementes de palmeira são comumente conhecidos como èkùrọ́, mas os caroços usados na divinação Ifá são distinguidos por um termo especial Ikin. Por vezes a eles se referem como nozes de palmeira de Ifá (ikin Ifa) ou palmeira oleífera de ikin (ope ikin).
Dalziel arrola-se como uma variedade botânica distinta (elaeis guineensis idolátrica) conhecida com King Palm (palmeira real), Juju Palm, Tabu Palm e Palmier Fetiche; ele afirma que ela é facilmente reconhecível por suas folhas semi-enroladas e a sua folhagem é usualmente mais escura e menos pendida que nos tipos comuns. Um divinador Hara disse que suas folhas são eretas e apontam para cima porque são "dobradas", o que as torna rijas. Aduziu que se o fruto dessa árvore é misturado com o fruto comum ao fazer o óleo da palmeira, este ficará estragado porque se mistura com a água ao invés de subir à superfície; quando tal ocorre, eles sabem que há pelo menos um ikin entre os frutos de palmeira. Com referência a este fato que informantes dizem que os frutos da palmeira de Ifá não são comidos.
Alguns adivinhos de ifé sustentavam que apenas caroços com quatro ou mais reentrâncias ou "olhos" ojú em suas bases podem ser empregados na divinação ou com propósitos rituais e que os com três olhos são inaceitáveis para Ifá. Um dos versos de Ifá (175-2) registrados em ifé dá conta de quatro olhos nos caroços de Ifá. Burton (1863: I, 189) refere-se ao emprego de caroços com quatro olhos e Talbot (1926: II, 185) e Atayero (1934: 6) àqueles com quatro ou mais olhos. J. Johnson (Dennett, 1906: 246) diz que Ifá é representado por caroços com ocelos ou ilhoses de quatro até dez ou mais. Em outro lugar ele diz: "Existe uma palmeira especial que é conhecida pelo nome de Opa-Ifá, ou palmeira de Ifá, porque aquela espécie comumente dá caroços dispondo de quatro ocelos cada, e estes são os únicos empregados no culto a Ifá e a ele são dedicados.
São considerados sagrados para esse propósito e freqüentemente deles se fala como Ekuro-aije, isto é, Nozes que não devem ser comidas e se caroços com dois ou três ilhoses derem nessas árvores, estas e aparentemente variações regionais no nome da árvore, mas iyerosun como a denominação do pó é amplamente reconhecida. Informantes de ifé explicaram que este nome significa Iye irosun, ou pó de madeira (iye) feito pelos cupins na árvore irosun. Clarke (1930: 240) também dá à árvore o nome irosun e Farrow (1926: 38) fala em irosu. Adivinhos em Meko, no entanto, não conheciam árvore alguma irosun, afirmando que o pó de cupim provinha da árvore osun igi osùn; eles explicaram que o termo iyerosun como sendo a combinação de iyeri oyeri (pó de cupim) e osun. Abraham (1958: 334) dá ambos ìyẹ como pó de madeira proveniente de árvore carcomida por insetos perfuradores e ìyèrè òsùn o mesmo que irosun: "madeira pulverizada da árvore irosun esparzida sobre a prancha divinatória".
Em Ifé, o pó divinatório é freqüentemente mantido ao alcance da mão guardado numa garrafa ou outro vasilhame. Quando maior quantidade se faz necessária, o adivinho ou seu assistente pegam um pedaço de madeira de irosun que esteja infestado de cupins, bate-o pesadamente sobre uma pedra achatada para esvaziar a madeira do pó e "bateia-o" sobre um tabuleiro de divinação, de molde a que maiores fragmentos de madeira possam ser removidos. Os adivinhos de Meko trazem para casa um pedaço de tronco de árvore osun, durante a estação seca, e o deixam pousado no solo para que as térmitas possam comê-lo, mas não próximo do local onde fazem a divinação. Eles explicam que os cupins devoram apenas a parte externa, esbranquiçada, e que o pó avermelhado do cerne jamais é empregado. Esse cerne produz osun, o avermelhado pó de madeira comumente conhecido em inglês como camwood, mas que seria barwood segundo a classificação de Dalziel, caso os termos de Meko e ifé sejam distingam especificamente. Em Meko, outras madeiras também podem ser usadas, inclusive igi ayore e igi idin não identificadas, igi iṣin, e pó de bambu ou de caibros de dendezeiro; iyerosun é preferido mas a espécie de madeira não vem ao caso na medida em que o pó de térmitas de qualquer outro tipo de madeira como insatisfatório, mas ocasionalmente usam pó de caibros feitos de dendezeiros como um substituto. Embora marcação em areia seja fundamental para o sistema islâmico de divinação e a despeito de Wyndham (1921: 69) e Price (1939: 134) mencionam o uso de areia nos tabuleiros divinatórios em ifé e Gorer (1935: 196) relatar seu emprego no Daomé, tal uso em lugar de pó de madeira é desmentido por adivinhos de ifé e não é mencionado por Maupoil. Em Meko, nem areia nem giz são usados; farinha de inhame élubọ pode ser empregado, conforme nota S. Johnson (1921: 33), mas não é considerada boa para propósitos divinatórios. De modo análogo, a Maupoil (1943: 194) foi dito que fuligem, carvão vegetal, cará semi-cozido e mandioca não funcionavam. Marcação de uma figura em inhame meio cozido esmigalhado, conforme descrito por Burton (1863: I, 190), foi negada por informantes e não tem sido sugerida por observadores subseqüentes.

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